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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dia do Estudante, 11 de agosto, UNE 73 anos: presidente Augusto Chagas fala ao EstudanteNet

Atual presidente da mais antiga entidade do movimento social brasileiro, Augusto Chagas conversou com o EstudanteNet sobre o seu primeiro ano à frente da UNE. Leia a primeira parte do bate papo.


Neste 11 de agosto, exatos 73 anos depois, celebramos a fundação de um patrimônio social inegavelmente decisivo para a história brasileira no último século. Como registram as páginas do amigo e escritor Arthur Poerner no seu incomparável "O Poder Jovem", voltamos ao Rio de Janeiro, no dia em que “a UNE nasceu na Casa dos Estudantes do Brasil, onde o Conselho Nacional dos Estudantes, depois de solenemente instalado pelo ministro da Educação, efetuou, no dia 12, a sua primeira sessão ordinária, dirigida pela presidente vitalícia e fundadora daquela Casa, a poeta Ana Amélia de Queirós Carneiro”.

Revivemos aquele momento em que jovens, com anseios e esperanças diversas, tiveram a coragem de apostar na unidade. Homenageamos aqueles que, em todas essas sete décadas, valeram-se dessa força para postar-se incansavelmente pela construção da igualdade social, da educação e do desenvolvimento do país, algumas vezes em esforços corajosos que comprometeram suas próprias vidas.

Parabéns aos estudantes. Parabéns àqueles que de alguma maneira contribuem nos DAs e CAs, nos DCEs, nas atléticas, nos CUCAs, nas empresas juniores ou grupos de pesquisa da sua instituição de ensino para transformar a realidade do Brasil. Àqueles cujo peito se sente mais completo no bordão "A UNE somos nós. A UNE é nossa voz".

Esta data, que também representa o Dia do Estudante, que já foi dia de luta e conquista para diversas gerações, como a dos cara-pintadas de 1992, é também, sempre, momento de olhar para os desafios de mais à frente. Por isso, neste aniversário de 73 anos da UNE, o EstudanteNet entrevista o atual presidente da entidade, Augusto Chagas.

Aos 28 anos, nascido em São Paulo, foi eleito presidente em 19 de julho de 2009, durante o 51° Congresso da entidade, realizado em Brasília, com mais de 70% dos votos pela chapa "Avançar nas mudanças". Augusto presidiu o Diretório Acadêmico e o DCE da Unesp/Fatec e esteve à frente União Estadual dos Estudantes (UEE-SP) por duas gestões (2005-2007 e 2007-2009).

Nesta primeira parte da entrevista, Augusto faz um balanço dos 365 dias de gestão, fala de conquistas e vitórias como a aprovação dos 50% do Pré-sal para a educação e da “PEC da Juventude”. Relembra ainda a plenária final do Congresso que o elegeu e comenta a respeito do Terreno da UNE no Rio de Janeiro, local onde será erguida a nova “Casa do poder jovem”, com projeto doado aos estudantes por um dos maiores arquitetos do mundo, Oscar Niemeyer.

Você foi eleito no dia 19 de julho do ano passado e tomou posse no dia 11 de agosto. Lembra da plenária final do 51° Congresso da UNE? Qual foi a sensação de, a partir daquele dia, estar sendo eleito para dirigir a entidade mais antiga dos movimentos sociais brasileiros, que comemora 73 anos de vida?

Lembro, claro! Estava ansioso, tenso. Para quem conhece o Congresso da UNE sabe a adrenalina que é uma plenária final, aquele é o limite da saudável disputa de ideias que envolve o movimento estudantil. É a linha de chegada. Então, começa a cair a ficha, você começa a entender a responsabilidade que terá a partir daquele dia. Presidir a UNE é ser irreverente e responsável, é ter a oportunidade de ver florescer em cada canto deste país a vontade de participar da juventude, nas suas mais diversas formas. Nesse um ano eu vi que a UNE é do tamanho do Brasil. Presidi-la é saber que você precisa descobrir a cada dia um pouco mais, se esforçar mais, trabalhar mais, estudar mais, viver mais.

Qual o balanço que você faz desses 365 dias de gestão?

Neste primeiro ano de gestão, a UNE esteve coesa e concentrada em vários desafios: conseguimos dar passos decisivos rumo a construção da nossa sede no Rio de Janeiro; aprovamos no Senado a nossa principal pauta política que é pela destinação de 50% do Fundo do Pré-Sal para a educação; realizamos um vitorioso CONEG [Conselho Nacional de Entidades de Gerais], no qual aprovamos nossa plataforma para estas eleições; realizamos dezenas de passeatas pelo país na maior Jornada de Lutas dos últimos anos que mobilizou milhares de estudantes em várias capitais; participamos decisivamente da Conferência Nacional de Educação; conquistamos o fim da DRU [Desvinculação das Receitas da União] no Congresso Nacional, a PEC [Proposta de Emenda Constitucional] da Juventude, enfim, foi um ano de muito trabalho e vitórias que com certeza entrarão para a história. Mas, se neste primeiro ano tivemos avanços, queremos buscar muito mais daqui para frente!

Quem acompanha o movimento estudantil, sabe que a UNE se renova a cada período, incorporando novas bandeiras e reivindicações, como a luta LGBT, pela cultura livre e digital, contra o racismo e pela diversidade de todas as formas de manifestação. Como você enxerga hoje a organização dos jovens estudantes e de que forma essa gestão vem atuando nessas frentes?

Diversificar o movimento estudantil é um desafio. A UNE representa hoje mais de 5 milhões de estudantes, além de ser muito dinâmica com a entrada e saída de alunos das universidades. A atuação social e política destes estudantes a cada dia é mais diversa e muitos deles sequer têm uma atuação mais organizada. Por isso, queremos trazer para “dentro da UNE” o estudante que luta contra o preconceito, que atua através da cultura, do esporte, e de tantos outros temas que nos interessam. Por meio destas bandeiras temos condição de transformar pontos importantes da sociedade. A UNE já tem muitas diretorias que procuram desenvolver estas pautas. Em especial, a diretoria de Mulheres e a de Cultura têm se destacado muito, mas temos várias outras, como a diretoria LGBT e de Combate ao Racismo. No último Congresso criamos a diretoria de Direitos Humanos, que já inovou e realizou um belo seminário neste primeiro semestre na UERJ. Queremos inovar durante nossa 7ª Bienal em janeiro do próximo ano. Acredito que a Bienal pode ser um grande festival que abarque toda a diversidade de temas e lutas que os estudantes do Brasil têm conduzido.

O EstudanteNet acompanhou de perto as últimas movimentações coordenadas pela UNE e pela UBES no Congresso Nacional em defesa da aprovação da emenda ao projeto de lei que cria o Fundo Social do Pré-sal e pela PEC da Juventude. O corpo a corpo com os parlamentares garantiu a destinação de 50% dos recursos deste fundo para a educação e a inclusão do termo "jovens" na constituição. O que isso significa para esta e para as próximas gerações?

São vitórias que marcam nossa geração. Carimbar o recurso do Pré-Sal vai mudar a educação do Brasil, tenho certeza. Nossos jovens hoje não são bem formados e metade deles ainda está fora do Ensino Médio e três quartos nunca chegarão a uma universidade. É o maior desperdício que um país pode fazer com seu futuro. Por isso que esta será uma conquista lembrada para sempre, que entra na lista das nossas maiores vitórias. Podemos, com orgulho, afirmar que demos mais uma contribuição para a história brasileira.

O corpo-a-corpo com certeza foi fundamental. Foram meses de ação coordenada no Congresso. Sabe aquela afirmação que “nossa vitória não será por acidente”? Por isso, as redes da UNE e da UBES precisam ter certeza que o que garantiu a vitória foi nossa mobilização, nossa pressão, nossas passeatas, nossos atos, nossos debates nas escolas e universidades, nossa luta. Quando a UNE está dialogando com um deputado ou senador reivindicando uma pauta, ele sabe que está tratando com milhares de lideranças de todo o país e é isto que nos dá legitimidade.

E a PEC da Juventude, como foi a aprovação?

Uma das coisas mais bacanas que aconteceram no último período foram a criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude. São instrumentos que possibilitaram o país superar a ideia de que a juventude era entendida apenas como um rito de passagem entre a adolescência e a idade adulta, sem percebê-la como uma idade na formação das pessoas que têm particularidades próprias e, por isso, exige uma visão e políticas específicas. Nesse sentido, a aprovação da PEC da juventude foi uma vitória de extrema importância. Agora, o termo “jovem” faz parte de um capítulo da Constituição brasileira, que antes simplesmente ignorava isso. Penso que a PEC, depois do voto aos 16 anos, foi a principal conquista constitucional para a juventude brasileira.

Nesse processo de mobilização pela aprovação do Pré-sal e da PEC da Juventude, a UNE utilizou alguns instrumentos das novas tecnologias e redes sociais, como o twitter. Você estuda Sistemas de Informação e as pessoas que te conhecem sabem do seu gosto por celular, laptops e outras coisas relacionadas à informática. Qual a sua relação com as novas tecnologias e de que forma enxerga isso como um possível instrumento de comunicação dentro da rede do movimento estudantil?

Gosto muito das inovações, desde pequeno sempre gostei. O interessante é que a velocidade delas parece que aumenta, a cada dia surgem coisas malucas, celulares ultra-modernos, a Internet lança coisas novas, que nem imaginávamos que existiriam alguns anos antes. O YouTube, que hoje atinge 10 a cada 10 usuários da Internet, por exemplo, não existia há alguns anos.

Acho que uma das novidades mais interessantes é este espaço das redes sociais. Hoje em dia a quantidade de ferramentas é impressionante: todo mundo tem condição de se conectar com amigos do mundo inteiro e fazer chat e vídeo através do MSN; manter pelo Orkut uma lista de contatos com os amigos desde o bairro que você nasceu até o seu trabalho; gravar no YouTube vídeos e fotos do seu celular ou ter um álbum no Picasa ou Flickr. Sem falar no twitter, que te coloca em contato direto com figuras públicas das mais diversas, como artistas, jornalistas, políticos e esportistas.

Para o movimento estudantil a possibilidade é enorme. Fico imaginando há vinte anos como se fazia um Congresso da UNE sem internet. Hoje fazemos até passeata virtual! As campanha que lançamos no twitter com a hashtag #50%presaleducacao e #PECdaJuventude foram importantíssimas para mostrar aos parlamentares que estas pautas mobilizavam gente em todo o país. De repente, os senadores começaram a receber centenas de mensagens de pessoas do seu Estado, isso teve papel importante.

E mais, há redes hoje em dia, em especial no Brasil, que são casos de sucesso, têm uma audiência enorme. Muitos jovens estão todos os dias ligados a elas com interesses dos mais diversos. A UNE precisa atuar nestes espaços pra falar com essa moçada, mostrar nossas bandeiras e conquistar mais pessoas para nos ajudar nas nossas lutas.

Recentemente você teve um encontro com o arquiteto Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro. Como foi a conversa? Vocês falaram sobre o novo prédio da sede da UNE que será construído na Praia do Flamengo, projeto que foi desenhado por ele e doado à entidade?

Foi inusitado e emocionante! Já estávamos tentando encontrar o Oscar Niemeyer há algum tempo para falar com ele do andamento do projeto de construção da nossa nova sede no terreno da Praia do Flamengo, que já neste ano pode dar um passo importante para o início das obras. O professor Niemeyer é um dos maiores brasileiros, daqueles personagens que a UNE reverencia porque deram contribuições inestimáveis para a história mundial. Tem uma brincadeira interessante também, já que ele nunca aceitou aquela ideia de que a pessoa é rebelde enquanto jovem e se acomoda com mais idade. O professor tem 102 anos e é comunista declarado. Tivemos uma conversa de uns trinta minutos. Ele estava jantando com a família. Falamos principalmente da expectativa da construção da nossa nova sede, na Praia do Flamengo, 132. Agradeci a ele a paciência, já que o primeiro projeto é de 1982. Disse ainda que a UNE sentia orgulho de tê-lo como parceiro e ele me respondeu que “isto era gentileza minha”. Tivemos tempo ainda pra falar da Copa, e ele comemorou a eliminação dos Estados Unidos diante de Gana, brincando que eles entendiam mesmo era de beisebol. Aproveitei também a oportunidade e já o convidei para uma ação que estamos pensando com objetivo de comemorar o início das obras do novo prédio.

Sobre a reconstrução da sede da UNE no Rio de Janeiro, como está o processo de indenização? E o que representa colocar de pé novamente aquela que foi chamada "a casa do poder jovem"?

Antes de falar do hoje, é preciso fazer duas reflexões. A primeira é quanto à Praia do Flamengo-132, espaço de efervescência da juventude brasileira, comitê central da campanha “O Petróleo é Nosso”, sede do Congresso Mundial pela Paz e casa de um dos mais engajados movimentos culturais brasileiro, o CPC da UNE. A segunda é uma deferência àqueles que simbolizaram a retomada desse espaço, dos que tombaram lutando contra a ditadura militar, dos que comemoraram a reintegração de propriedade com um chope no Bar Lamas junto com o presidente Itamar Franco, e também àqueles que durante mais de três meses ficaram acampados durante a ocupação dos estudantes na 5° Bienal da UNE.

Acaba de ser sancionada a Lei que responsabiliza o Estado brasileiro pelo incêndio e demolição da sede da UNE na ocasião do Golpe Militar. Já podemos comemorar a simbologia desta decisão e estamos muito orgulhosos da maneira como aconteceu: unanimemente, pelo Congresso Nacional, com apoio de todos os partidos políticos, do Governo e da oposição. Isto mostra que a decisão é muito justa e reforça o prestígio da nossa UNE. O momento agora é de trabalho da comissão inter-ministerial que foi montada para apurar o valor da indenização. Em alguns meses esperamos que os trabalhos estejam concluídos e que possamos finalmente começar as obras da nossa nova casa. Um fato importante é que este será o primeiro caso de reparação coletiva que o Brasil fará por conta do período da Ditadura Militar, razão de várias condenações brasileiras em cortes internacionais de direitos humanos.

Rafael Minoro
*Acompanhe nos próximos dias a segunda parte da entrevista.

(Creditos Estudantenet)

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