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domingo, 29 de agosto de 2010

Coluna Beabá do Racismo: Introdução

“É a realidade que põe em dúvida a igualdade.”

(Ditado Popular)

1. Quem é o Negro no Brasil?

É possível a maioria de nós subestime o alcance social da Ideologia da Democracia Racial (IDR). Lemos vários textos acadêmicos e jornalísticos que fazem troça de seu poder de difusão e conhecimento; sua capacidade de persuasão, mas se assim fosse, na medida em que é apregoado, como explicar a invisibilidade social do negro e porque não dizer do Racismo?

Devemos esclarecer que não estamos considerando como aceitável a resposta para o negro que seja somente a declarada, estimulada pela ação dos meios de comunicação de massa, depois de ampla folclorização e manuseio da cultura afro brasileira, instrumentalizando – a amplamente. Essa informação não é universal, portanto, mesmo que se revele uma tendência indiscutível para o máximo censo, podemos questionar a qualidade da informação, ou seja, até que ponto o fenômeno mensurado não se resume apenas ao aspecto cor da pele[1].

2. Invisibilidade do Negro e do Racismo
Uma das estratégias mais brilhantes de dominação da elite brasileira é praticar o Racismo e negá – lo, ocultá – lo, deixando aquele que é alvo deste desnorteado, sem defesa e se situando como a maioria, talvez, na esfera da não percepção do fenômeno, ao que reportamos devido ao peso da continuidade dos efeitos da IDR sobre a nossa gente. Não se sabe se é negro ou não, desconfia – se que não é bem branco; acaba – se assim aceitando a mestiçagem que a IDR enquadra.

Mas nisso tudo o racismo, por exemplo, na forma do preconceito linguístico[2], continua sendo praticado no mercado com a não contratação de negros, com o pagamento de salários mais baixos quando se contrata tais pessoas, apresentando para estes proletários dificultada ou nenhuma perspectiva de ascensão no interior das empresas, mesmo que tais trabalhadores negros sejam antigos, de modo geral não ascendem a prestigiados cargos e nem a bons salários. O racismo é praticado de forma não tão sutil assim, em vários locais e ocasiões, e continua a ser uma forma, até o momento segura de resguardar, senão, multiplicar, privilégios.

O próprio negro (pardo, mulato) não sabe que é negro deste modo não consegue apreender a extensão do Racismo, não somente porque considera o preto como o único negro, mas também por não conhecer melhor própria condição para além da destinação de cor de pele que tanto valoriza nos termos da IDR. Enfim, como o mulato, os pardos não se identificam negros, pensam que a discriminação sobre eles é apenas de natureza sócio – econômica (inclusive pelo fato de na escala econômica estes estarem acima do preto [negro retinto]). A ideologia da mestiçagem, portanto, permite que os negros aceitem a divisão que a elite faz deles em pretos, pardos, mestiços, negros e morenos.[3]

O branco, provavelmente, percebe este aspecto do real próximo disso, brancos e “pardos” parecem reconhecer o negro (preto [negro retinto]) como alvo do racismo e da discriminação racial. Novamente insistimos que por tal meio a maioria da população se afaste entendimento e compreensão da extensão e profundidade do Racismo, acreditando que o Racismo atinge a minoria da população, não lhe atribuindo grande importância, concorrendo para sua invisibilidade, apesar de quase todos “não – pretos”, porém, negros, terem preconceito ou discriminarem o preto.


A nosso ver o IBGE, com sua metodologia de classificar a população em branca, preta, parda, amarela e vermelha acaba diluindo o negro, dificultando sua identificação, praticamente ocultando o negro. A este respeito o Dr. Hélio Santos esclarece que o IBGE, geralmente, torna invisível o negro nos Censos Demográficos, ao submetê – lo a divisão categorial de pretos e pardos.

Mas por que a maioria dos brasileiros pensa que negros são apenas os pretos (negros retintos ou escuros)? Cremos que em parte por causa da atitude do IBGE em reproduzir as práticas supracitadas anteriormente. Por outro lado, o IBGE poderia mensurar a população negra brasileira nomeando o negro, simplesmente, como aquele descende de escravizados africanos e brasileiros, com sinais físicos e/ou culturais visíveis de tal descendência, que o modo predominantemente popular de responder, sem as injunções, deformações e manipulações que atualmente são utilizadas.[4]

Acreditamos, pois, que entre outros motivos o Racismo é parcialmente invisível não aparecendo claramente como um dos maiores problemas sociais brasileiros, tanto pelos procedimentos do IBGE, como por aspectos da IDR, como a crença de que o Brasil é um país miscigenado e da louvação que se faz sobre essa suposição. O fato da elite praticar o racismo hipócrita e glamurosamente negá – lo, também concorre e em maior escala para encobri – lo na sociedade.

No fundo, porém, a IDR é ambígua, pois ao mesmo tempo em que procura disfarçar o Racismo com a miscigenação repõe o próprio ao apregoar a mesma miscigenação compulsória como única alternativa para o negro ascender e integrar – se a sociedade de maneira decente; dessa maneira propõe ao negro sua auto – extinção no plano biológico e cultural.

A crença pia ainda forte de que nós brasileiros somos um povo de boa índole e que não nos damos a conflitos e ódios raciais, deriva da IDR, é outro elemento que contribui para a invisibilidade do negro e do Racismo. Os recentes acontecimentos como terremotos, tsunamis, ataques a pessoas que trabalham em pátrias estrangeiras, auxiliaram a reforçar o mito de que o Brasil é um país abençoado.

3. Um trabalho Introdutório


Este é um pequeno ensaio introdutório sobre uma temática recorrente; espera – se acrescentar alguma coisa ao que já foi dito para um assunto que apresenta facetas e desdobramentos novos, tornando – se, pois, cumulativo e de difícil apresentação geral. Num momento em que o Racismo parece alcançar níveis elevadíssimos, acreditamos ser relevante debater este tema em termos de introdução explicativa e conceitual.

Entendemos que o Racismo é inicialmente o conjunto das definições, conceitos, acepções e dissertações mais simples, que permitam a compreensão básica, certamente, com qualidade, dessa maneira os assuntos para se desenvolver resultarão de escolhas.

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1 - Vários jornais da grande imprensa noticiaram no mês de Abril do ano de 2008 consoantes ao Programa Nacional de Análise Domiciliar – PNAD do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE que a população de pessoas que se declararam negras no Brasil atingiu 51%.
 
2 - Sobre preconceito lingüístico, consultar BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é como se faz. 33ª Ed. Sayola. São Paulo – SP, 2004.

3 - Sobre a Ideologia da Mestiçagem consultar, MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem. Antropologia – USP. Tese de Livre Docência – Banco de Teses. São Paulo – SP, 1998.

4 - PIZZA, Edith; ROSEMBERG, Fúlvio. A cor nos Censos Brasileiros: in Psicologia Social do Racismo – Estudos sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil. SILVA, Maria Aparecida et. al. (Org.) 4ª Ed. Petrópolis – RJ, 2009.

 
Por: Felipe Barbosa Teixeira
citando o Pós-Dr. Flávio Antonio da Silva Nascimento (Dept. História/ICHS/CUR/UFMT)

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