É certo que nessa semana que iniciou-se a partir de hoje, eu, membro do Diretório Central dos Estudantes 11 de Agosto, declarante feminista, não poderia deixar de pautar aqui alguns artigos interessantes a respeito do tema Equidade de Gênero, e principalmente, manifestar minhas considerações diante do cenário atual em que nos encontra. Pois, nessa semana, teremos que evidenciar a importância do dia 26 de Agosto, DIA INTERNACIONAL DA IGUALDADE DA MULHER.
Sem dúvida nenhuma que foi um marco nesse início do mês de agosto, dia 4, quando a militante estudantil, a diretora de mulheres da UNE, Fabíola Paulino pôde tomar posse no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).[1] Portanto, consolidou-se uma conquista que não só aumentará a força da entidade, UNE, como ainda, a colocará em mais proeminência no que tange também nas lutas feministas, permitindo também uma discussão maior da juventude feminina.
Contudo, a história dessa entidade que no último dia 11 de agosto comemorou seus 73 anos de existência, nos mostra uma outra face. Talvez, de início, possa parecer machismo da entidade ou certa oposição minha contra a mesma, mas, gostaria de deixar bem claro, que absolutamente, não é nada disso.
Todavia, é necessário ressaltar alguns pontos antes de continuamos a discussão:
1º) Para quem não sabe, a entidade, começou a funcionar no prédio da Casa do Estudante do Brasil, na capital do Rio de Janeiro, sob a direção de Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça. No dia 11 de agosto de 1937, a partir do I Congresso Nacional dos Estudantes, surge a União Nacional dos Estudantes (UNE).[2]
2º) Apesar dos mais de 50 presidentes que tomaram posse na entidade, somente, 4 foram mulheres: Clara Araújo (1982-1983); Gisela Mendonça (1986-1987); Patrícia de Angelis (1991-1992) e Lúcia Stumpf (2007-2009) - foto abaixo.[2] Visto que a somente a última teve um mandato maior dentre as outras.
A luta feminista no Brasil teve início, no século XIX, com as primeiras manifestações das mulheres que reivindicaram as vossas igualdades políticas, ao mesmo tempo, desafiaram a ordem conservadora que excluía a existência civil da mulher. É válido ressalvar: “A luta pelo direito subjetivo é um dever do titulo para consigo mesmo. defesa da própria existência é a lei suprema de toda vida: manifesta-se em todas as criaturas por meio do instinto de autoconservação. No homem, porém, trata-se não apenas da vida física, mas também da existência moral; e uma das condições desta é a defesa do direito. No direito, o homem encontra e defende suas condições de subsistência moral; sem o direito, regride à condições animalesca, tanto que os romanos, numa coerência perfeita, colocavam os escravos no mesmo nível dos animais, do ponto de vista do direito abstrato. ” [3]
É evidente que o autor ao falar o homem, ele não configura apenas no ser masculino, mas, sim como um todo na espécie Homo sapiens. Além disso, demonstra a importância que se tem na luta pelo direito subjetivo, ou seja, da subsistência moral.
No entanto, podemos afirmar que o feminismo brasileiro surgiu e prosseguiu em primeira instância na luta pela igualdade política, tanto que, em 1922, foi fundado a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino que levantava as bandeiras: pelo voto, pela escolha do domicílio e pelo trabalho de mulheres sem autorização do marido.
Naturalmente, o feminismo brasileiro teve suas variáveis, e grandes lutas, mais gostaria de destacar aqui o que ocorreu na época da ditadura militar, em 1975, foi criado o Movimento Feminino pela Anistia. Esse movimento consolidou-se na sociedade pela independência de partidos políticos e outras ideologias.
Todavia, volto a questionar o porquê da entidade UNE, teve poucos momentos em sua história uma representatividade feminina à sua frente, que somente começou no ano de 1982. Tendo em vista, as diversas lutas empenhadas pelo feminismo brasileiro em toda sua existência, e, essencialmente, no tocante a igualdade política. “Eu acho que está muito registrado o machismo da nossa Universidade, o machismo a sociedade brasileira que se reproduz na Universidade e também no Movimento estudantil. Em 72 anos de história da UNE, apenas quatro mulheres foram presidentes, e nós tivemos nesse período mais de 50 presidentes. É um número bastante pequeno de mulheres que presidiram a entidade, ainda mais agora nesse período mais recente, que as mulheres são maioria nas Universidades. Nós representamos 52% das matrículas universitárias do país e somos, sem dúvida, ampla minoria nos espaços de poder no Movimento Estudantil.[...] isso deixa claro a necessidade de lutarmos contra o machismo na sociedade brasileira, contra o machismo na Universidade, que é muito forte, muito presente, e também nos Movimentos Sociais, em especial no Movimento Estudantil.” [4]
Em conformismo cito: “As mulheres de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começam a afirmar sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver integralmente sua condição de ser humano. Educadas por mulheres, no seio de um mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina praticamente ao homem; o prestígio viril está longe de se ter apagado: assenta ainda em sólidas bases econômicas e sociais. É pois necessário estudar com cuidado o destino tradicional da mulher. Como a mulher faz o aprendizado de sua condição, como a sente, em que universo se acha encerrada, que evasões lhe são permitidas, eis o que procurarei descrever. Só então poderemos compreender que problemas se apresentam às mulheres que, herdeiras de um pesado passado, se esforçam por forjar um futuro novo.” [5]
Decerto, a questão é bem delicada. Porque a mulher, em sua grande maioria, sempre são educadas pelas mulheres, e são, na maioria das vezes, conduzidas pelo conservadorismo e machismo das mães. Devemos mudar esse contexto nas gerações atuais para que nas próximas não seja acometido tal paradoxo.
Sobretudo, termos que admirar em toda história da República do Brasil a coragem e a ousadia das duas presidenciáveis: Dilma Rousseff e Marina da Silva.
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1 – PAULINO, Fabíola, et. al. UNE entra no Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres . Disponível em: http://mulheresnaune.blogspot.com/2010/08/une-entra-no-conselho-nacional-dos.html
2 – SIQUEIRA, Carla, et. al. Memória do Movimento Estudantil. Disponível em: http://www.mme.org.br/main.asp Acesso em 20 ago. 2010. às 11:30.
3 – IHERING, Rudolf von. A Luta pelo Direito. 1. ed. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 41.
4 – STUMPF, Lúcia. Em entrevista com Lúcia Stumpf - presidente da UNE, a quarta mulher a ocupar cargo em 72 anos da instituição ao Portal Mais Mulheres no Poder Brasil. Disponível em: http://www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/pdf/entrevistas/Entrevista_Lucia_Stumpf.pdf Acesso em 22 ago. 2010. às 17:00.
5 – BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [1949] 1980, p. 7.
Por Pâmella A. Balcaçar
1ª Secretária DCE/UFMT-CUR
Muito bom o texto Pamella. Parabéns.
ResponderExcluirMas o novo movimento feminista, não deve ser como o antigo, que era um movimento feminista pequeno burguês. Que nunca se preocupou, realmente, em defender/lutar por todas as mulheres; e sim apenas pelas mulheres dos estratos mais "altos" da nossa piramide social.
Com toda razão... O Movimento feminista não pode de maneira nenhuma segregar de acordo com os interesses dos que tem um poder aquisitivo maior. Mas, para isso, é de suma importância a participação maior da mulheres quando o assunto for política, levantando assim as bandeiras de lutar de cada região, de cada tipo de mulher. Só assim, poderemos promover a igualdade até mesmo dentro do movimento.
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