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sábado, 27 de novembro de 2010

Uma Visão do Câncer Biológico ao Social

Hoje, 27 de novembro, é o Dia de Luta contra o Câncer. Essa doença que muitas vezes, devasta não só a vida da pessoa que tem como também as dos familiares. É tão brutal.

Segundo a literatura científica, o Câncer é a patologia caracterizada por um aglomerado de células que crescem e se dividem sem respeitar os limites normais, ora falha na cobertura celular e os mecanismos de inibição de contato, ora podendo ser um conjunto de anomalias genéticas resultem nesse comportamento celular, onde invadem e destroem tecidos adjacentes. Podendo desenvolve-se em outras regiões do corpo ou outros órgãos em um processo denominado metástase. Embora seja muito estuda em todo mundo, essa patologia não tem vacina nem uma cura definida. Assim, existe uma combinação de tratamento: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Porém, é tão brutal, não causam danos apenas aos tecidos do tumor, como também às células normais, desequilíbrio do sistema imune, transtorno psicológico e outros efeitos colaterais que ocorrem ao longo desses tratamentos. Muitas técnicas vêm surgindo dessas pesquisas que combinada com as existentes, tentam promover uma qualidade de vida melhor aos pacientes.

Por tudo isso é importante o prognóstico o quanto antes. Tratar um pequeno tumor é mais fácil e menos desgastante do que vários tumores ao mesmo tempo.

No entanto, existe um crescente câncer que ao contrário do biológico, parece nem ter forma de tratamento. Digo aqui o câncer social. Antes de sua definição se indagada, reafirmamos que, ser mais devastado que o outro. Enquanto muitos lutam para manter a própria vida, outros incitam a destruição de muitas outras... Câncer social é tão presente e constante que muitos admitem ser já da nossa própria cultura. Bem, vamos para as definições:

O Câncer social é um fenômeno que ocorre por um indivíduo ou grupo contra outro(s) de maneira excludente e desvantajosa, não caracteriza-se como um adjetivo para qualificar um determinado indivíduo ou grupo, assim segregando esses. Mas, sim para desumanizar e rebaixar a existência moral desses. São elementos do câncer social: o racismo, em suas múltiplas formas; machismo; homofobismo; xenofobismo; entre outros. Um bom exemplo é a análise desses em tempo histórico: Durante a época da II Guerra Mundial, os alemães e nazistas, ao definirem os judeus alienígenas dentro da sociedade que precisavam ser eliminados por todas ópticas morais daquele país, perseguindo e segregando-os, era uma ação do câncer social.

É válido ressaltar: “A defesa da própria existência é a lei suprema de toda vida: manifesta-se em todas as criaturas por meio do instinto de autoconservação. No homem, porém, trata-se não apenas da vida física, mas também da existência moral; e uma das condições desta é a defesa do direito. No direito, o homem encontra e defende suas condições de subsistência moral; sem direito, regride à condição animalesca, tanto que os romanos, numa coerência perfeita, colocavam os escravos no mesmo nível dos animais, do ponto de vista do direito abstrato.”[1]

Nesse contexto, podemos citar outro exemplo ocorrido, logo após as eleições presidenciais, sabe-se que todo o processo eleitoral acometida por um jogo onde os candidatos lançam ao vento algumas temáticas ou especulações na discussão, resultante também por machismo, houve depois um ataque virtual que caracterizava ser uma xenofobia aos nordestinos, uma pessoa utilizando de uma rede social disseminar o ódio e intolerância de uma região à outra. Diante disso, a sociedade percebe-se em situação que até então todos diziam ser desconhecido. Mas, de fato, já ocorria. Discriminação de região, sempre houve desde os tempos do descobrimento.

Igualmente, ocorre a inversão de valores da mídia, que deveria ser um setor de difusão de informações e, não um manipulador de massa. “A disseminação da cultura de recusa das populações pobres erige a “advertência” de que eles estão prontos para matar a qualquer momento e, por isso, devem morrer sem defesa. Estamos culturalmente antecipando o conceito de “organização criminosa” que própria legislação ainda não tem definido claramente.[...] As evidências da propagação de uma cultura do repúdio ao “favelado”são múltiplas. Primeiro, a polícia mata e depois “pergunta” o nome e a idade, como assistimos frequentemente em inúmeros tiroteios transmitidos pela TV.”[2]

Além disso, muitos defendem que o câncer social caracteriza-se como ser um indivíduo: “os adjetivos monstros, bestas, câncer social são utilizados para qualificar não só criminosos pobres como também menores abandonados.”[3]

Ainda mais, se analisarmos pelo abandono estatal que essas regiões periféricas sofrem, poderíamos afirmar que isso se trata de um racismo ambiental. Conforme a brilhante definição de Martiniano J. Silva [4]: “Racismo ecológico ou ambiental – É a modalidade ou subespécie mais recente de discriminação – ecológica, racial, econômica, política, social, tecnológica etc. – contra “Mãe terra”, seus ecossistemas e, sobretudo, os povos mais pobres. Surgem no contexto do fim da Guerra Fria e da nova concepção histórica do mundo ocidental, polarizado entre ricos do Norte e pobres do Sul [...] A Rio-92 apresentou dados que apontam uma nova visão de mundo: 60% da população pobre, de maioria negra, vive em áreas ecologicamente vulneráveis do planeta: terras áridas ou pouco produtivas, topos de montanhas, mangues, pântanos; nos centros urbanos, morros e lugares inadequados para a construção de moradias; no meio rural, onde dependem da natureza para sobreviver, são desestruturados por modelos de desenvolvimento predatórios, baseado na busca do lucro a todo custo e na exploração desenfreada dos recursos naturais, de acordo com os interesses do Norte”. Assim, também acontece no Brasil, porém, de ordem inversa, o sul e sudeste são desenvolvido e onde geram grandes riquezas, sendo de origem européia; já as demais regiões são descriminadas como sendo um grande fardo para o sul e sudeste do país. Demonstrando ser outra variável do câncer social que é a negação do próprio fenômeno. Assim escutamos frequentemente tais dizeres populares: ‘Não existe racismo no Brasil!’ ‘Poucos são racistas!’

De forma idêntica: “A população negra não foi aceita para participar em igualdade de condições na composição da nova sociedade brasileira em formação. A realidade de marginalização em todos os campos, em especial no campo da educação, que presenciamos hoje contra a população afrodescendente, tem fortes determinantes nos atos oficiais históricos pelo Brasil de ontem.[...] Trabalhar a dimensão étnica numa sociedade que comemora 500 anos de domínio monocultural ocidental europeu é um desafio muito grande. O nome “Pré-vestibular para Negros”, por um longo período, provocou grandes conflitos. Um setor da coordenação do Projeto tinha posições firmes com referência à importância da questão étnica. Sabia que o “apartheid à brasileira” era cruel e que a marginalização social e racial dos afrodescendentes sempre fez parte das estratégias dos grupos que revezaram no poder através destes anos.”[5]

Pela mesma razão, recentemente, o presidente sancionou a lei que visa à inclusão obrigatória nos currículos escolares da educação básica e superior a matéria ‘História da África e dos Afrodescendentes’, com a mesma carga horária que se estuda a história européia.

Além disso, acontece uma prática corriqueira de homofobia calada, donde é notório definições carregadas de preconceitos e discriminação, citamos como:  “Ultimamente ganhou espaço na imprensa e muitas denúncias estão surgido. O que mais me preocupa é saber que os grandes praticantes dessas atitudes tão ignorantes são pessoas jovens, que farão o Brasil de amanhã. Temo pelo futuro do nosso país. DIVERSIDADE sim, intolerância NÃO! Um amigo gay veio em casa e meu sobrinho, de sete anos, veio perguntar a mim se ele era “bicha”. Conversarei com ele e explicarei que o termo “bicha” não deve ser usada para se referir a uma pessoa homoafetiva. As crianças devem aprender desde cedo o que é respeito e vida em sociedade.”[6]

Por tudo exposto, defendemos que deveria implantar mais estudos para encontrar algum mecanismo para minimizar ou acabar com esse câncer social da nossa sociedade. Já que não é uma patologia biológica, possível de tratamento químico ou radioativo. Ou alguém sabe a algum tratamento para isso? E não se divulga pelos mesmos argumentos descritos, anteriormente.


Por: Pâmella A. Balcaçar
1ª Secretária DCE/UFMT-CUR

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[1] IHERING, R. V. A Luta pelo Direito. São Paulo: Martin Claret, 2004.

[2]ROSA, A. D. Organização criminosa ou criminalização da pobreza? IN: Sociologia: ciência & vida. Ano II, nº 14, São Paulo: Editora Escala, 2007.

[3]RUOTTI, Caren. Violência em meio escolar: fatos e representações na produção da realidade. IN: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.36, n.1, p. 339-355, jan./abr. 2010
Esse artigo é resultado da dissertação de mestrado: “Os sentidos da violência escolar: uma perspectiva dos sujeitos” (2006), orientada por Sérgio França Adorno de Abreu (FAPESP).

[4]Martiniano J. Silva é escritor, professor da Fundação Universitária de Mineiros (FIMES), membro do Movimento Negro Unificado (MNU), advogado e conselheiro da OAB de Goiás, onde coordena a comissão do meio ambiente.

[5]CANDAU, V. M.,  et. al. Cultura, Linguagem e subjetividade no ensinar e aprender. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

[6] Jefferson Reis, também conhecido como Neurotic StrangerBlood. É acadêmico de Letras com habilidade em Literatura de Língua Portuguesa/UFMT. @MisterNeurotic

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