O movimento cultural brasileiro tem vivido muitas transformações nas últimas décadas. A cultura popular, por sua vez, é a expressão mais legítima e espontânea do nosso povo. Ao mesmo tempo em que carregamos os elementos fundadores da cultura brasileira, somos os responsáveis por um constante processo de transformações, assimilações e misturas. Mas uma coisa é certa: muito mais do que música, o samba, nossa maior identidade nacional, continua sendo o jeito brasileiro de viver, gingar, pensar e decidir. É o traço de brasilidade que agrega toda a cultura nacional em sua complexidade.
Esse eixo norteou mais um debate da Bienal da UNE, que aconteceu no calor máximo tão falado do Rio de Janeiro. Os convidados Sergio Molina, professor da faculdade Santa Marcelina, e Chico Saraiva, bacharel em violão, deram o tom e engrossaram o caldo para que o assunto se estendesse para além da história musical dessa ginga brasileira.
A consagração do samba como ritmo nacional acompanha a história do Brasil e é uma boa via para quem quer conhecer o país à luz dos acontecimentos que remontam à colonização, chegando até os nossos dias, bem como compreender o desenvolvimento político das estruturas governamentais a que este país se submeteu para chegar a ser uma República e se tornar “independente”. “Valorizava a mestiçagem como garantia de uma identidade cultural original, enquanto a maioria de seus contemporâneos a considerava um impedimento sério ao desenvolvimento nacional”, afirmou Sergio Molina. “Na década de 20, vários grupos de intelectuais, inclusive os modernistas de São Paulo, celebravam a mestiçagem e as expressões de cultura popular como emblemas de “autenticidade. Esse foi o marco inicial da descida do samba do morro para a avenida e da consagração do samba como grande identidade”, complementou.
“Atualmente o samba tem uma importância fundamental para a cultura brasileira. A diversidade que caracteriza essa manifestação popular é resultado de um processo histórico e cultural que começou no século XIX com os batuques dos escravos e pretos livres. Hoje, nosso samba tem elementos europeus também. Ele é único. Ele é brasileiro. Eventos de importância mundial, como o carnaval, provam como essa manifestação de cultura popular ganhou e continua ganhando espaço. Hoje o samba não tem uma só identidade, pode ser das classes populares, das classes média e alta, de negros e brancos”, afirmou Chico Saraiva, um dos destaques da nova safra de compositores responsáveis pela renovação atual da MPB.
Vale ressaltar que o samba da Bienal de 2011, revisitado e resignificado em uma cidade que se ensaia cosmopolita o bastante para receber, em 2014, a final da Copa do Mundo e, em 2016, os jogos olímpicos, é como a procura de um marco referencial da cultura brasileira. Adereçado de possibilidades e conexões como o samba-rock, a drum`n`bossa e as paradinhas do funk na bateria, o samba brasileiro tem grande contribuição a dar a outros povos mundiais.
Fonte: 7ª Bienal da UNE
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